Paróquia

A Vila de Alhos Vedros

Conhecida pela sua frente ribeirinha, Alhos Vedros vila e freguesia portuguesa do concelho da Moita, encanta-nos pela sua beleza histórica e pelas memórias da população residente.

As suas origens remontam ao período anterior à Reconquista Cristã, onde os seus habitantes terão resistido às investidas muçulmanas num Domingo de Ramos, segundo as "Memórias Paroquiais de 1758”.

Alhos vedros, em latim Alius Vetus, que significa “Outro Velho” foi assim apelidada pois estas terras não são de nenhum Rei, ou fidalgo, mas sim de “outro velho dono”. Esta terra chegou a ser sede de concelho e o seu território esteve a abranger os atuais concelhos do Barreiro e da Moita, entendendo-se desde a ribeira de Coina a Sarilhos Pequenos.

Em 1479, recebe o poder municipal devido ao desenvolvimento económico e populacional, que se foi verificando ao longo dos tempos pela prática da pesca e da agricultura. Contudo, foi em 1514 que foi concedido o Foral Novo, atribuído por D. Manuel I de Portugal.

É aqui que a vila de Alhos Vedros começa a revelar a sua importância pela grandiosidade dos elementos patrimoniais que se concentram no coração da terra, tais como, a Igreja Matriz de S. Lourenço, a Capela da Misericórdia, o Pelourinho, o conjunto formado pelo Moinho de Maré e Palacete do Morgado da Casa da Cova.

Foi na Igreja Matriz – de que é orago São Lourenço – que vinham pessoas de todas as localidades para os serviços religiosos dominicais e principais festividades do calendário religioso, tornando-se assim, uma das principais e mais tradicionais igrejas da zona.

No decorrer do século XX, com o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro, a atividade corticeira e têxtil aumentou o que permitiu maior afluência de pessoas vindas de todo o país, atribuindo à mais antiga vila do concelho o carácter de vila operária.

Atualmente com mais de 15 mil habitantes, a nossa misteriosa terra está em crescente evolução e encontra-se de portas abertas para receber a quem nos quiser visitar.

Alhos Vedros, vila de antigas tradições, freguesia de homens e mulheres com história, uma terra de encanto e com vida.

(Gabriela Arroja)

A Igreja

A construção da Igreja Matriz perde-se nos séculos. Nada temos hoje que nos indique quando foi edificada e como era originalmente. A crónica de 1758 dá-nos alguma luz, ma pouca. Sabemos somente que é muito antiga, e a que temos hoje é o resultado de obras de várias épocas.

No arco da Capela de S. João está gravada na pedra a inscrição de 1532; e a porta principal, lado poente, traz a data de 1602.

Pode perguntar-se: como seria o portal anterior? Porque terá a igreja uma porta lateral, voltada a norte, actualmente apertada entre o baptistério e a Capela de Nª Srª do Rosário e também esta trabalhada com ar de principal?

Perguntas que arquitectos e pessoas entendidas fazem, mas a que não sabemos responder por falta de informação adequada.

Os estilos misturam-se.

Há uma capela gótica; outra manuelina; pórticos renascença; sacristia setecentista e abunda o barroco.

A talha dourada do trono é das mais belas de quantas igrejas se encontram em redor.

Um testemunho forte da antiguidade da nossa Igreja Matriz, não como ela hoje nos aparece, é o facto de sabermos que em 1320 esta Matriz era obrigada a pagar, por imposição régia uma importância avultada, para as despesas da guerra.

(P. Carlos Alves, subsídios para a história de Alhos Vedros,65)

Orágo

S. Lourenço é natural de Huesca, Espanha, e serviu como diácono a Diocese de Roma durante meados do século III. É conhecida a sua amizade profunda com o Papa Sisto II, que lhe entregou a responsabilidade da administração dos bens da Igreja e o serviço aos pobres. A tradição diz-nos que ao ver Sisto II a caminho do martírio falou: «ó pai, aonde vais sem o teu filho? Tu que jamais ofereceste o sacrifício sem a assistência do teu Diácono, vais agora sozinho para o martírio?» obtendo como resposta: «mais uns dias e te aguarda uma coroa mais bonita».

A teoria sobre os bens da igreja levou o prefeito local, ao tempo do Imperador Valeriano, a exigir tudo quanto possuía. São Lourenço pediu um prazo e, deste modo, reuniu no átrio os órfãos, os cegos, os coxos, as viúvas, os idosos, e no fim do prazo disse: «eis os nossos tesouros». Sentindo-se humilhado, o prefeito sujeitou S. Lourenço à tortura que culminou com a sua ida para um braseiro, no ano 258. Os relatos antigos contam que nesse momento o mártir Lourenço rezava por todos e, mesmo diante de tanto sofrimento, não perdeu o seu reconhecido sentido de humor, dizendo a quem o torturava na grelha: «vira-me que já estou bem assado deste lado».

A festa de São Lourenço foi a maior da antiga liturgia, logo após as festas de São Pedro e São Paulo.

Em 2008 celebrou-se o 1750º aniversário do martírio de S. Lourenço. O Papa Bento XVI, em visita à basílica de S. Lourenço Fora dos Muros, a 30 de novembro, proferiu estas palavras: «(…) São Lourenço, [foi] arquidiácono do Papa São Sisto II e seu fiduciário na administração dos bens da comunidade. Vim hoje celebrar a sagrada Eucaristia para me unir a vós em sua homenagem numa circunstância muito singular, por ocasião do Ano Jubilar Laurenciano, proclamado para celebrar os 1750 anos do nascimento para o céu do santo Diácono. A história confirma-nos quanto é glorioso o nome deste Santo, junto de cujo sepulcro estamos reunidos. A sua solicitude pelos pobres, o serviço generoso que prestou à Igreja de Roma no sector da assistência e da caridade, a fidelidade ao Papa, por ele vivida a ponto de o querer seguir na prova suprema do martírio e do heróico testemunho do sangue, prestado apenas poucos dias depois, são factos universalmente conhecidos. São Leão Magno, numa bonita homilia, comenta assim o atroz martírio deste "ilustre herói": "As chamas não puderam vencer a caridade de Cristo; e o fogo que o queimava fora era mais débil do que aquele que ardia dentro dele". E acrescenta: "O Senhor quis exaltar a tal ponto o seu glorioso nome em todo o mundo que do Oriente ao Ocidente, no esplendor vivíssimo da luz que irradiou dos maiores diáconos, a mesma glória concedida a Jerusalém por Estêvão também foi dada a Roma por mérito de Lourenço" (Homilia 85, 4: PL 54, 486).